Teatro nas Empresas: Uma Idéia Brasileira

Espetáculo: Tema da ação: Segurança e E.P.I - Teatro nas Empresas

Tema da ação: Segurança e E.P.I

Teatro nas Empresas

De: Rogério Favoretto e Rodney D’Annibale.

O Fazer Teatral, desde os primórdios do Brasil, é uma ferramenta muito utilizada

na educação, no esclarecimento, na politização, enfim na formação e

conscientização do ser humano, tanto em seus direitos, como nos seus deveres,

até para mudar hábitos, conceitos… mas sempre, seja como for, o objetivo foi

educar.

Assim fez Anchieta, quando chegou ao nosso país, e se viu frente a frente com os

índios, aos quais tinha que catequizar. Mas se levarmos em conta os rituais

indígenas, o fazer teatral como forma educacional já havia se manifestado em

nosso país… e assim continuou se manifestando em cada região, com suas festas

populares, onde em cada uma delas encontramos um pouco da história, dos

costumes, das características, que são transmitidas de pais para filhos, através

destes rituais. A modernidade chega ao Teatro Brasileiro, através da influência de

estrangeiros que vieram se radicar aqui e tendo seu ponto alto no polonês

Ziembinski.

Em 1953 surge o Teatro de Arena, de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri

e José Renato Pécora, que buscou passar a história do país a limpo, aproximar o

teatro do povo através de uma dramaturgia nacional e também de encenações de

textos de Bertold Brecht, e assim politizar o povo e trabalhadores. Com isso o

Fazer Teatral chegou às portas das fábricas e insere o trabalhador em suas

atividades… estamos em meio a ditadura militar, momento de sufocamento total

da liberdade de expressão, e está lá o fazer teatral, marcando sua presença no

grito “mudo” de protesto.

O tempo passa e com a chegada dos anos 90, muitas coisas mudaram, a

televisão é uma realidade e os produtores teatrais já são bem poucos, um novo

momento começa, ser pessoa de teatro já não é tão glamoroso e atores viram

produtores para poder exercer sua arte e então surge neste momento um novo

nicho para a atividade teatral, o teatro como ferramenta de treinamento

corporativo. Espetáculos, intervenções, palestras dramatizadas começam a

ser utilizadas para levar de forma mais eficiente as informações até os

trabalhadores, visando atender a necessidade das empresas na orientação de

seus funcionários, os temas são variados e personalizados.

Essa nova realidade faz surgir um novo ator, mais ágil, mais coletivo, mais

consciente de sua importância enquanto artista, enquanto agente de informações

que com certeza vai despertar naquele trabalhador que o assiste, uma nova

dimensão em relação ao meio em que ele está inserido, desde suas relações

pessoais, até com os direitos e deveres em relação a sua atividade e empresa a

qual ele está ligado.

Temos aqui o fazer teatral, indo para dentro das empresas definitivamente, e não

só até a porta… Seria esse movimento, guardada as devidas proporções e

objetivos, uma extensão inconsciente do que o pessoal do Arena começou?!

Fazer essa pergunta, talvez seja muita pretensão, talvez não… Mas com certeza,

como pretendia Brecht, Artaud, para se obter sucesso neste nicho de mercado é

preciso uma forma de expressão cênica, onde o ator não seja uma grande vedete

e sim uma ferramenta que conduza o expectador a reflexão.

Independente de qualquer tipo de comentário, o teatro nas empresas é um fato,

que está fazendo a sua história levando as mais variadas informações aos

trabalhadores como: Segurança no trabalho, uso correto dos equipamentos

de proteção individual (EPI), combate e orientação ao stress, tabagismo,

alcoolismo, dengue, tuberculose, aids e outras doenças sexualmente

transmissíveis, segurança no lar, qualidade de vida, reciclagem de materiais,

atendimento ao cliente, integração dos funcionários de áreas de atuação

diferentes visando uma linguagem uniforme que caracterize a empresa…

uma lista extensa de temas que são abordados no dia-a-dia das Empresas, que

vêm até os núcleos especializados em Arte Cênica Educativa buscar apoio para

um melhor rendimento de seus funcionários e que conseqüentemente reflete nos

resultados das empresas.

Os cuidados com o espetáculo não são diferentes daqueles conhecidos:

Dramaturgia, direção, atores profissionais, cenários, figurinos, adereços… e

friozinho na barriga antes de cada apresentação.

O que muda então?!! O assunto do texto não é livre, ele é desenvolvido para

atender a necessidade do contratante, o que faz com que o texto contenha um

universo de termos técnicos, que exige do ator, diretor e dramturgo uma atenção

especial e aprendizado dessa nova realidade.

A atuação deve ser mais atenta, pois é necessário, envolver, encantar e marcar

presença na memória desse público tão especial, pois estamos ali para educá-

lo, para torná-lo melhor profissional e principalmente um melhor ser humano. Sem

ser didático, monótono, impositivo, chato… mas através da melhor forma de

reflexão num momento de tantas dificuldades, incertezas e competições que

apresenta todo processo sócio/econômico/cultural de nosso país: O humor.

Humor sadio, sem expor esse público especial, a situações desconfortáveis, mas

sempre buscando envolvê-los na ação, o que faz com que assimilem melhor o

conteúdo proposto.

O Ator deve também deixar de lado o seu ego, o seu melindre, e buscar apoio

nos colegas, desenvolver um trabalho coletivo. A guerra de vaidades no teatro

educativo, não é benéfico, pois o que importa é o resultado coletivo e não o

individual, o objetivo é conscientizar o público e não saber quem atuou melhor,

pois todos tem que atuar “melhor” sempre. É importante lembrar, que cada

apresentação é uma estréia, pois para aquele público e para quem contrata só

há essa apresentação para atender as expectativas, logo, o objetivo é sempre

atender a necessidade de quem contrata.

O Espaço Cênico sofre variantes das mais inesperadas ordens, por isso é

necessário agilidade de adaptação para lidar com camarins e coxias muito

pequenas, ou até inexistentes em alguns momentos, palcos muito reduzidos e isso

muitas vezes acontece não por falta de atenção da empresa teatral, mas por

algum descuido da empresa contratante, que se compromete a ceder um

determinado espaço físico, mas quando se chega no local para a realização do

evento apresentam uma realidade diferente daquela combinada.

Além dos espetáculos, com essa parceria Teatro/Empresa, surgiu a Intervenção,

que são micros espetáculos, com duração de cinco a vinte minutos em média, que

tem o objetivo de informar de forma rápida e concisa sem que haja necessidade

de deslocar o público de suas seções de trabalho, pois os atores é que se

deslocam pela empresa, nesse caso não há cenários, essa forma de

apresentação se repete várias vezes durante o dia até que todo o público seja

atendido.

O Fazer Teatral nas empresas traz para o ator um novo espaço para trabalhar,

reciclar e exercitar o seu ofício em contato direto com um público que em sua

grande maioria nunca teve ou teve poucas oportunidades de ver um espetáculo

teatral. Ë o artista indo onde o povo está, cumprindo sua função didática,

social… levando alegria e entretenimento, mantendo vivo esse meio de

comunicação tão antigo e eficiente que sempre encantou a todos.

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